quarta-feira, 15 de junho de 2011

O D.O.M, contado por mim.

Semana passada, quando resolvi ir a São Paulo, por questões profissionais, a primeira coisa que me passou na cabeça foi: esta é a minha oportunidade de conhecer o D.O.M, do renomado Chef Alex Atala, recém considerado pela revista Restaurant - e seu pomposo prêmio San Pellegrino, o sétimo melhor restaurante do mundo.

Já vou me desculpando de início pela má qualidade das fotos - não quis parecer "brega" fotografando tudo e, por questão de respeito, desliguei o flash do meu celular enquanto jantava a meia luz e luz de velas (digamos, BEM a meia luz - quase no escuro). Sim, sei também que, em situações como esta, o celular deve ficar na bolsa, ou nem vir - mas não pude deixar de registrar o momento. Alem disso, tambem de antemao, quero ressaltar que meu objetivo nao e ir contra as mil maravilhas que falam sobre o trabalho do Atala, Chef que ja caminhou muito e agora esta em seu auge, mas simplesmente contar a experiencia que tivemos nesta noite - valorizando a importancia das diferentes opinioes e perspectivas, afinal de contas, gente elogiando o cara por ai nao falta.

Logo que chegamos no local, no fim da rua Barão de Capanema, uma rua residencial, mas rodeada de restaurantes finos, o D.O.M abriu seu enorme portão de madeira rustica para nos receber. Ja tinha recebido uma ligação à tarde, confirmando as reservas e as nossas presenças. Eu observava tudo, como quem analisava cada detalhe, desde a atuação da hostess até como os garçons nos serviam e que tipo de público frequentava ali. Muita gente estrangeira, a maioria do pessoal falando inglês nas mesas. Os garçons, todos apesar de bem vestidos, visivelmente simples, o que achei bem brasileiro e bem legal. Todos muito simpáticos e prestativos por sinal. Um detalhe importante que faltou, na minha opinião, foi um lencinho na hora de trazer os pratos para a mesa, onde o garçom encostava seus dedinhos em parte do nossos pratos.

O ambiente, de arquitetura moderna e ao mesmo tempo rústica (entenda-se que não sei nada de interiores rsrs), com um enorme lustre no meio do salão, chama atenção na decoração. Apenas 50 lugares, com a cozinha no canto final do salão, toda de vidro - onde vemos os Chefs indo e vindo, fazendo suas preparações. Ambiente todo em madeira escura, com estofados em tons creme e espelhos cuidadosamente espalhados pelo salão - de tamanho médio, nem grande nem pequeno, com um bar logo na entrada, seguido de uma estatua de um leão em tamanho natural e inúmeras peças com significados brasileiros espalhadas pelos cantos.

Logo que fomos encaminhados à mesa, tocava ao fundo uma música brasileira, no estilo de um baião - muito agradável, por sinal, mas que para nossa infelicidade, não durou muito e foi desligada - ficando aquele silêncio meio "awkward" (não consigo achar em português, uma palavra que descreva isto!)

Fomos então perguntados se gostaríamos de beber alguma coisa - eu fui na água, meu pai no Vinho do Porto. O gerente então veio a mesa, trazendo o Menu e perguntando o que gostaríamos de comer - eu já disse logo que queríamos o Menu Degustação. Ele perguntou: "De 4 ou 8 pratos?" Escolhemos o de quatro.

Pra iniciar, nos foi trazida uma coalhada com azeite de ervas, acompanhada de uma pasta de alho e uma manteiga in natura de boa qualidade - pra combinar, pãezinhos de queijo, um pão em estilo italiano e um outro pãozinho assado coberto de queijo parmesão. Bom, mas simples e, nada de mais.






Dando sequência,  um appetizer oferecido pelo Chef: uma mini-porção de catupiri (sim, como qualquer outro!), mandioca refogada na manteiga de garrafa (que passou um pouquinho do ponto da crocância!), pingo de Vinho do Porto, salsinha e cebolinha para enfeitar, acompanhado de uma taça de espumante de jabuticaba. E eu na expectativa para que o "Show" começasse.


Como first course, um Carpaccio de vieiras (cortado de maneira mais grossa), intercalado com o famoso palmito pupunha, que anda tão na moda entre os maiores Chefs e que, apesar de meio sem gosto, trás uma crocância à preparação, acompanhado de molho de coral. Prato bonito, bem montado, mas com um molho um pouquinho salgado demais. Aí, já começei a me preocupar.


Como próximo course, um mini pratinho quadrado, com ostras empanadas cobertas de tapioca marinada e ovas de salmão. Um molhinho estilo vinagrete, com um toque apimentado, começou a me deixar mais esperançosa.


Pra continuar, o próximo course foi um filé de peixe (Raia) na manteiga de garafa com tomilho limão, mandioquinha defumada (sim, ela denovo!), brócolis e espuma de amendoim - primeiro resquício de Gastronomia Molecular, que o Atala é conhecido por fazer uso. Nada de mais, mais uma vez.


Foi então que recebemos um prato com caldo de Vitela, arroz selvagem crocante (aquele pretinho), onde foi colocado por cima um creme (quase que um mousse) de Funghi. Primeiro prato que eu me senti em um restaurante digno de merecer um título - sabor irreverente, textura diferenciada, onde a crocância do arroz dá um toque perfeito à combinação.


Próximo course, um Filet Mignon de Javali ao molho roti com canjiquinha. O Filet, preparado de maneira perfeita, selado por fora, rosado por dentro, não teve tanto charme, quando combinado com uma canjiquinha, em estilo meio hospital - é, faltou um salzinho. A este ponto, ambos já comparávamos o restaurante com alguns outros que já estivemos fora do país, e que não passam nem perto daquela famosa lista.


Depois disso, veio o que eles chamam de "Aligot", aquele famoso prato que todo mundo que vai no D.O.M comenta, que o garçom trás à mesa girando os garfos. Nada mais é que um purê de batatas fundido com queijo Gruyere e Minas. Ficamos esperando algum molhinho, guarnição, mas nada apareceu. Meio insosso, mas não dá pra negar que é gostoso e tem uma textura diferente. É, já estava quase terminando.


Pra finalizar os courses, fomos agraciados com a sobremesa, que aumentou um pouquinho o meu conceito. Era uma torta de castanha do Pará com sorvete de whisky (muito bom, por sinal - com gostinho de álcool bem marcante), molho de chocolate, curry, sal, rúcula selvagem e pimenta. Criativo, diferente, arrojado e ... bom.


Pedimos cada um, então, um cafezinho, que veio acompanhado de alguns mini docinhos tradicionais - treat que não esperávamos e nos surpreendeu, como a queijadinha, quindim, merengue recheado e castanha trufada. Gostamos do mimo inesperado.


Pra aumentar a minha insatisfação, o Atala nem deu as caras enquanto estávamos por lá. A presença dele podia ter diminuído a nossa tristeza, especialmente a minha, que até daria uma colher de chá se visse aquele Deus grego desfilando por lá! Na hora de pedir a conta, para duas pessoas, incluindo couvert, as águas que tomei, uma taça de Vinho do Porto, o cafezinho e dois Menus Degustação, com taxa extra de serviço de 12%, exatos R$ 863,52 (não, você não leu errado).

Sem mais, tirem agora suas próprias conclusões. Eu vou dormir, que é o que me resta! Beijos à todos!

Um comentário:

  1. Bela postagem, sempre bom ver algo sobre o D.O.M que não sejam os mesmos elogios de sempre. Estou ingressando agora neste belo mundo da gastronomia e a riqueza de detalhes em seu texto me deixa ainda com mais vontade de aprender, conhecer e criar. Parabéns.

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